quinta-feira, 11 de novembro de 2010

HÁ DIAS ASSIM...


"O primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oraçao.
Quando ja ninguem me escuta, Deus ainda me ouve.
Quando ja não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguem, a Deus sempre posso falar.
Se não há mais ninguem que me possa ajudar Ele pode ajudar-me.
Se me encontro confinado numa extrema solidão...o orante jamais esta totalmente só.
Numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe,
torna-se uma força crescente de esperança,
que permite ser para os homnes uma testemunha da esperança,
daquela grande esperança que nao declina, mesmo nas noites de solidão."

Papa Bento XVI, Spes Salvi

P.s: No meio do trabalho pela noite dentro veio à mesa estas palavras....realmente...vale a pena pensar nisto...vale mesmo a pena viver isto!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

NA VERTICALIDADE DA MANHÃ....


Há imagens que nos colocam no e em sentido!

Hoje, ainda o dia não se anunciava no horizonte,
ouvia...
"Há uma voz de sempre que chama por mim
para que eu lembre que a noite tem fim..."

acompanhada pelo marulhar das ondas,
que singelamente se banhavam no cais do Funchal...


O olhar era inundado numa imagem:
Há barcos acostados num porto que conta historias
de partidas e regressos...

que, no seu entretanto, enquadram buscas e procuras...

Barcos que pintam a baia,
mas que na verticalidade das suas velas
apontam o sentido...

No mar da historia...e da vida...
os navegantes são missionários da esperança...
lançam-se no oceano, na certeza imensa que
que a noite tem fim...


mas ao mesmo tempo ancorados...
levados pela certeza de um mastro que segura uma vela...
Ele que, na sua verticalidade,
no mar,
aponta o céu...
Ela, que na sua capacidade de acolhimento,
do vento...
lança a caminho...
nos CAMINHOS!

Na aurora de cada manhã...
a vida desafia-nos a uma viagem...

SÊ NAVEGANTE!

FAZ-TE AO LARGO!

Peregrinos de uma certeza...
Que,
sempre,
no Oceano da Vida...
Teimemos que...
A noite tem fim...

EU SOU A LUZ DO MUNDO!

Há imagem que nos colocam no e em sentido!
Pe António Estêvão Fernandes

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Quando a VIDA rasga a vida....


A vida tantas vezes assemelha-se a um rascunhar errante...
um ininterrupto desenhar e apagar...

há medos que à proa da linha
se tornam lemes...

Contudo...
a linha dourada que se desenha no horinzonte
proclama a luz que que se levanta...

Quisera eu, MEU DEUS encontar-Te quando me ouso desenhar...
mas...
assim és TU... irrompes como Sol na manha...
e quando em alguns momentos na vida procuro sentido...

Eis que és Tu...
no dom imenso de criares o homem à Tua imagem e semelhança...
qu me acolhes num abraço....
Nos braços que desenham um cerco...
manifesta-se a cratera de um vulcão que nao fala...
mas cala...
e cala bem la no fundo...
Nessa cratera que é tantas vezes a vida...
Tu irrompes como VIDA que rasga a vida...

O que é que torna a nossa vida diferente....
São os teus passos no jardim...
Expressão plena que Nos procuras em cada encontro silencioso...

Sim... ha vidas... há historias que nos rasgam a existencia...

Pe António Estêvão Fernandes

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Amanhecer com Etty Hillesum...


"Não é necessário falar sempre,
também é possivel estabelecer contacto e
dialogar em silêncio, e julgo que é o que aconteceu no nosso caso..."

"Mas contigo é muito diferente:
tu estás presente na minha vida, é-me impossivel imaginar-te fora dela,
converso contigo muitas vezes, mas não tenho necessidade de o fazer por escrito;
....
Se se der o caso de nao teres noticias minhas durante algum tempo,
nao deves ficar desapontado ou, quiça, triste; não deixo de nutrir por ti os mesmos
sentimentos profundos e bons.
Esta manhã, enquanto estava deitada a pensar em Ti, senti, de repente, uma
necessidade irresistivel de voltar a dizer-to por escrito.
Ficaria desolada se ficasses com a impressão de que já não me preocupo contigo como antes.
Tudo aquilo de belo e humano que partilhamos tornou-se parte da minha vida emocional e está sempre presente."


(Retirado de "Cartas, Etty Hillesum". Judia que à beira da morte, num campo de concentraçao, é capaz de escrever assim... impressionante.)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

NA SOMBRA DO SOL....


O desvendar do sol que se derrama,
ao final da tarde,
nas linhas e contralinhas das montanhas e planices....
deixa-nos às claras connosco proprios...
como que ironicamente...se derrama em nós!

Acende em nós
encontros...
olhares...
historias....
medos...
desejos...

Na beleza inaudita da sombra do sol...
há um grito...que quer ter voz!
há uma esperança...que quer ser presente!
há um desafio...que quer ser vivido!
há um amor...que quer ser amado!

HÁ UM OLHAR QUE QUER SER ENCONTRADO...
HÁ UMA LUZ QUE QUER DESCER ATÉ TI!

NA SOMBRA DO SOL...
Existem sempre siluetas que querem ser vencidas!
Bragança (MRDL) 17/08/10

NO FIO DA LUZ...


Muitas vezes
é necessário deixar o fogo correr o fio da nossa vida...
se.... quisermos,
realmente que, a luz nos inunde...
se... quisermos,
realmente que, em nós...
a vida seja
VIDA!

Fátima, 12/08/10

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Lançar a mão à fechadura ...


"O que é que Jesus vê quando lê os nossos corações?
Sem dúvida que vê a nossa bondade
– que nós próprios, tantas vezes, não conseguimos enxergar –
e vê o nosso desejo de sermos verdadeiros
e de realizar atos de amor.
Mas há outra parte de nós que ele também vê:
os nossos pecados e faltas, naturalmente,
e também aqueles quartos fechados
cujas portas nem sequer ousamos abrir.

Se Deus vê o que há dentro de nós e não nos rejeita,
porque haveremos de ter medo desses quartos escuros
e
de olhar para aquelas dimensões da nossa vida que
nos fazem estremecer só de pensar em as encarar?
Não deveríamos ter esses receios
porque não há nada que,
com Deus, não seja possível enfrentar.

Lembremo-nos disto,
confiemos nEle
e abramos essas portas agora!
"
P. Dennis Clark
In Catholic Exchange
Trad. e adapt.: rm
© SNPC

segunda-feira, 28 de junho de 2010

DEITAR A MÃO AO ARADO ....E.... NÃO OLHAR PARA TRÁS


«Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus.» (Lucas 9, 61-62, excerto da leitura do Evangelho de 27.6.2010)

Um poderoso executivo aguardava para embarcar num avião quando repentinamente e sem aviso a viagem foi cancelada. Furioso, dirigiu-se ao balcão das passagens ultrapassando quem estava à espera de ser atendido e exigiu um lugar em primeira classe para o voo seguinte.
O funcionário explicou amavelmente que a transportadora estava pronta a ajudá-lo mas que teria de ir para a fila e esperar pela sua vez.
“Jovem, tem alguma ideia de quem é que eu sou?”, vociferou o homem.
O funcionário olhou-o cuidadosamente de alto a baixo. Depois, ligou o microfone do aeroporto e disse: “Atenção: Há um passageiro no balcão dos bilhetes que não sabe quem é. Se alguém o conseguir identificar, por favor informe-nos”.
*****
É muito fácil esquecer quem somos e para onde vamos. Em determinadas alturas das nossas vidas, é tudo muito claro. O casal jovem no altar, o padre acabado de ordenar, o jovem sagaz que se dirige à primeira aula na Faculdade de Direito: todos sabem para onde vão; sabem que haverá um preço a pagar e estão prontos a pagá-lo. É tudo muito claro e muito simples.

É então que o tempo passa e o preço começa a ser pago – e pago, e pago! E o que recebem em troca não é tão perfeito e sólido como haviam esperado. O lindo bebé torna-se num adolescente difícil; o jovem atraente perde o cabelo e a linha; e depois de 10 mil homilias, o enérgico sacerdote avalia as delícias do voto de silêncio!

Dúvidas e questões dolorosas vêm à superfície: Não sabia que iria ser assim. Será que tomei a opção errada? Isto vai continuar para sempre assim? Como é que eu saio desta?

Jesus compreendeu muito bem esta dimensão da nossa experiência humana, este cansaço a meio do caminho que nos tenta a olhar para trás em vez de olhar para a frente, que nos impede de ver as novas e mais profundas alegrias e possibilidades que estão ao nosso alcance aqui e agora, este abatimento a meio do trajecto que nos tenta a desistir, a abandonar o nosso “arado” e ir embora.

Suster esta inclinação e avançar sem olhar para trás exige abandonar muitas coisas – algumas muito boas, outras de que já não precisamos. Essa renúncia pode ser dolorosa mas pode dar espaço a algo mais, a algo melhor. Pode permitir-nos crescer em formas completamente novas de viver e amar, aqui e agora, e dentro das nossas vocações de esposos, pais, amigos e pastores com as quais há muito nos comprometemos.

Como qualquer bom pai, Deus quer ver-nos a crescer grandes e fortes, em especial interiormente. E quer-nos ver felizes. O que acontecerá se nos lembrarmos para onde nos dirigirmos e quais os motivos que nos levaram a optar pelas nossas prioridades centrais. O que acontecerá se deixarmos que Deus tome a nossa mão enquanto caminhamos com Ele.

Não olhe para trás. Isso só o deixará imóvel no mesmo lugar
e tornará o seu interior mais amargurado.
Decida-se antes por olhar para a frente e mais profundamente.
Ficará surpreendido com o que espera por si!

P. Dennis Clark

terça-feira, 22 de junho de 2010

Na noite...reconstruo o Dia!


"Reconhece então os sinais da sua vida...

e algures recomeça uma antiga dor e, a negro,

essa dor vai enchendo a folha vazia e é como uma casa

que os fantasmas em visita demandassem pela noite fora.

Tudo se enreda e confunde, tudo se desmorona e reconstroi

quando ele vê um país distante, no sul da sua melancolia,

e é um país de fogo, com vastos incêndios à volta e um vulção

à espreita na sua alma. Ele estremece. Um cão ladra alto.

Um relampago fulmina a noite e ele tem medo.

Na folha outrora branca, vazia, há agora uma densa sombra

de mistérios que alastra. não há paz para o seu coração e

os olhos que ardem fixam-se num lugar muito longe

onde canta o pássaro invisível do poema e das estrelas.

Em silêncio, só, ele continua a escrever."

JAB

segunda-feira, 7 de junho de 2010

COM A LINHA DO HORIZONTE DESENHO A ESPERANÇA...


Muitas vezes a linha do horizonte pesca-nos o essêncial da vida,
qual anzol de eternidade....

Talvez seja esse o segredo...
Deixar que o horizonte nos olhe ao invés de sermos nós a o olharmos!

Talvez assim o nosso olhar e, por ele,
as linhas que cozem o nosso dia-a-dia
na orquestraçao da vida e na VIDA
não amarrem o horizonte...mas aí construam a casa onde devemos habitar....

Porque habitar o horizonte é, ao mesmo tempo,
olhar o dia e a noite...
tocar a terra e o céu...
enfrentar o percurso realizado e...
abrir-se à imensidão do dom de cada manhã...

Porque habitar o horizonte é....
contemplar no ringue da vida ...
essa harmoniosa luta entre coragem e medo...
entre o saltar e o ficar...
entre o caminhar e o parar....

Porque habitar o horizonte é...
erguer as mãos e abraçar medos...
amá-los como quem ama a coragem....

Porque...há medos....
que nos falam de ME-DO....
sim... eles dizem-nos e desafiam-nos a...
habitar o hifen que liga o
"M.E." de Melhor Entender....
e o
"D.O." de Desejar Olhar... em frente....

Hoje... aqui, ao raiar da manha, olhando o horizonte...ouvi:
Alegrai-vos e exultai porque é grande nos céus a vossa recompensa...

Talvez seja este o segredo que
sinzela e grava
a felicidade dos dias e nos dias!


Pe António Estêvão Fernandes

quarta-feira, 17 de março de 2010

AMASSADOS NO TEU SANGUE....


“Então Deus modelou o homem com a argila do solo,
insuflou em suas narinas um hálito de vida
e o homem tornou-se um ser vivente!” (Gn 2,7)

Há momentos em que somos surpreendidos pelo som de Deus!
Não! Não são os passos no Edén das origens…
É sim o som dessa estaca em forma de cruz que habita o monte Calvário…
Esse som que desenhou a radicalidade de Deus…
na Sua relação com cada um de nós!

Não poucas vezes desejamos ter o Teu coração, o Teu amor, o Teu olhar...
a Tua vida…a Tua sensibilidade…enfim, a Tua coragem…
Hoje, sugiro que habite o coração do homem um desejo diferente
ouso dizer que recusem subir à Tua cruz…
ouso dizer que recusem levantar olhos para Ti, como aquele centurião…
ouso dizer que recusem chorar como as mulheres de Jerusalém…

Hoje, atrevo-me a Te pedir que coloques no coração do homem
o desejo de que a argila de que foi formado …seja a argila daquele lugar onde assenta o som seco e frio da cruz em que te sustentas a descansar como estandarte de vida levantado!
Hoje, Senhor, não quero olhar a Cruz…
quero sim olhar a argila da minha existência…
não quero levantar a cabeça…
quero prostrar-me, quero sentir esse frio que habita esta argila
tantas vezes sem o hálito da Vida…
Hoje, Senhor, não quero que a lança do soldado volte a perfurar o Teu peito…
mas que rasgue esta argila… que abra nela um sulco onde, hoje, possa assentar, a cruz que Te sustenta!
Hoje, Senhor, não quero matar a Tua sede com o vinagre da minha existência…
mas apenas que concedas o dom que este sulco humano de argila… seja cálice que acolhe esses fios fulminantes do Teu sangue…

Não quero ser argila partida pela secura do afastamento de Ti…
argila por onde tantas vezes escapou esse hálito vital!

Faz Senhor que o monte calvário habite por uns instantes o meu coração…
quero ser sulco, cálice de argila ressequido, que acolhe e recolhe Teu sangue…
Hoje, Senhor, humildemente Te peço…
que a argila da minha existência seja amassada no Teu sangue!
Quero sentir esse riacho de sangue que no Edén re-criado do calvário
levanta o homem do pó da terra!
Quero viver de Ti, em Ti!
Pe António Estêvão Fernandes

sexta-feira, 12 de março de 2010

UM DEUS QUE OBEDECE À VOZ HOMEM!?


“No dia em que o Senhor entregou os Amor­reus nas mãos dos filhos de Is­rael, Josué falou ao Senhor e disse, na presença dos israelitas: «Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aia­lon.» (…) Isto está escrito no Livro do Jus­to. O Sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro. Nem antes nem depois houve um dia tão longo como aquele em que o Senhor obe­deceu à voz de um homem, pois o Senhor combatia ao lado de Israel.” (Josué 10, 12-14)

O homem obedecer a Deus até é,
racionalmente, compreensível.
Deus obedecer ao homem, digamos, e ouso dizê-lo,
é perversamente escandaloso e difícil de perceber mesmo ao nível da fé!
Não sei se estamos a perceber...
trata-se de obedecer, que supõe uma ordem...
e não de responder a um pedido que muitas vezes supõe a oração,
relação de confiança filial com Deus.
Qual o homem que ousaria,
verdadeiramente,
dar uma ordem a Deus????
Mais... Que Deus ousaria obedecer ao homem???
Queridos amigos não será o retiro um momento desses?
No meio das várias batalhas que travamos diariamente, no estudo,
nas nossas relações familiares e com os nossos amigos,
indo mais além, até nessas batalhas,
mais dificeis,
complicadas e delicadas
que temos connosco próprios,
com a nossa vida...
aí onde a terra é verdadeiramente nossa terra...
esse espaço sagrado que é o nosso coração...
lugar onde não existem mascaras, medos, fugas...
porque é o lugar,
verdadeiramente,
do nosso inequívoco encontro com Deus?
Tempo de retiro é tempo de ousarmos gritar uma ordem a Deus...
tal como Josué...
Gritemos assim:
Detêm-te aqui, Emanuel, Deus-connosco...
Sê Sol que nestes dias dissipa as sombras de desânimo,
de desconfiança, de tristeza,
que tantas vezes nos fazem perder
aquelas pequenas batalhas do nosso dia-a-dia!
Detêm-te aqui, Senhora, Maria, Nossa mãe...
Sê Lua que ilumina as noites que vivemos,
aqueles momentos em que vacilamos na fé,
na esperança, na caridade, no amor...
Ousemos gritar a Deus... a Maria...
Sabeis porque é que Ele e Ela nos obedecerão?
Porque ainda hoje nos continuam a dizer:
TU ÉS O MEU FILHO, A MINHA FILHA A QUEM TANTO AMO!
Que estes dias sejam tempo desse encontro vital,
que ele aconteça aí nessa terra
que é verdadeiramente nossa e d'Ele,
O NOSSO CORAÇÃO,
encontro que nos reconstrói, recria, renova!
Então aí o Sol e a Lua deter-se-ão não um dia...
mas todos os dias da nossa vida!
Ousemos gritar e confiar:
Deus és nosso Pai!
Cristo és nosso Irmão!
Maria és nossa Mãe!
Pe António Estêvão Fernandes

N.B: Mensagem dirigida aos cerca de 60 jovens das EJNS que se encontram, por estes dias, em retiro!

terça-feira, 9 de março de 2010

SALTAS PARA A FORNALHA?


Quando o tempo de Deus cruza,
transversalmente,
o tempo humano, arriscamos a nos queimar!

O fim de semana passado, habitamos
(eu, dezassete jovens das Equipas de nossa Senhora e um casal = PCL7)
o centro de um desses “cruzamentos”!
Hoje, percebi que, uma metáfora, fora, por mão de Deus,
o pórtico deste retiro:
A LAREIRA
Ao inicio uma necessidade: o frio reclamava o calor…
no seguimento uma dificuldade: o fogo teimava em não atear…
no entretanto uma sarça que não se consumia...
no fim uma realidade: um fogo que fica…O FOGO que vai!
Assim foi, diria, o percurso metafórico, deste retiro!
Todos podemos aprender a lição da lareira… o frio da solidão e do medo humano reclama o calor da presença transbordante de confiança de Deus. Um longo tempo sem Deus dificulta a sua redescoberta na vida. Descoberto e reencontrado…Deus “acende” em nós o fogo da confiança, fogo que é luz que vence a escuridão do medo e o frio da solidão!
Foi a dureza do fogo dos fornos de Auswitz,
contemplado em "A lista de Schindler",
que rasgou e expôs claramente a verdade da dureza do coração humano... mas ao mesmo tempo a sede de ser caldeira de fogo que movia aquele comboio levando à libertação,
literalmente,
à vida!
Deste encontro, um final que é prenúncio: há uma chama que se reacende na lareira aparentemente apagada como que dizendo… Eles foram… mas no seu coração vai O FOGO, O MEU FOGO, que Eu quero que abrase o mundo…
Ouvida a leitura do Êxodo rezaríamos todos juntos…
Senhor,
faz com que o nosso coração seja sarça ardente que não se consome, porque Tu nele habitas!
Que ele seja sarça que Te revela, como outrora aquela a Moisés!
Que ele seja sarça que torna a Terra lugar sagrado, porque em cada irmão habitas Tu!
Que ele seja coluna de fogo que alumia as noites do nosso caminho vital,
como outrora aquela que alumiou o povo de Deus na escuridão do deserto!
Olhando o retiro, diria que, como aqueles três jovens do livro de Daniel,
dançamos dentro da fornalha ardente do Amor de Deus!
Diz-se que «gato escaldado de água fria tem medo»…
Neste caso diria que...
Jovem abrasado, de fogo tem sede…
porque FOI DEUS QUE NOS ABRASOU!

Pe António Estêvão Fernandes

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"VEJO UM RAMO DE AMENDOEIRA" Jer 1,11



Há momentos na história de Deus connosco que, como dizia o filósofo grego Plutarco, somos ‘forçados’ por Ele a calar! Os últimos dias que vivemos, em comunidade, foram desses momentos. Neles a nossa fé é posta à prova e deve ser alimentada pela Palavra de Deus. Nela alimentei-me muitas vezes estes dias e nessa leitura e meditação encontrei uma imagem profunda e simbólica que nos pode ajudar a re-caminhar neste momento. Encontra-se no início do livro de Jeremias e também aparece no livro dos Números. Refiro-me à amendoeira! Vejo um ramo de amendoeira, diz Jeremias, cujo livro é escrito, numa época trágica de sangue, de guerra, de miséria no meio de uma cidade destroçada. Esta palavra é um grito de uma imensa esperança de Jeremias. A amendoeira é, na Palestina tal como aqui, uma das poucas árvores que cresce em pleno Inverno. Mais, é a única árvore a florir em pleno Inverno. É dela que surgem as primeiras flores. O ramo de amendoeira é o marcador do livro de Jeremias, que tem os olhos cravados na esperança e por isso, o resto passa à margem. Ele não se prende com os buracos, vai ao essencial, olha ao futuro.
Numa outra página muito bela, do Livro dos Números (Nm 17), Deus ordena a Moisés que recolha as varas de comando dos chefes das doze tribos de Israel, para, de entre eles, escolher um que exerça o sacerdócio em Israel. Em cada vara foi escrito o nome da respectiva tribo. Por ordem de Deus, o nome de Levi foi substituído pelo de Aarão. As doze varas foram colocadas, ao entardecer, na presença de Deus, na Tenda do Encontro. Na manhã seguinte, todos puderam contemplar que da vara de Aarão tinham desabrochado folhas verdes, flores em botão, flores abertas e frutos maduros. Dos frutos é dito o nome: amêndoas! Vara de amendoeira em flor e fruto, que, por ordem de Deus, ficará para sempre na sua presença. Ninguém estranhará, agora, que o candelabro que, noite e dia, ardia na presença de Deus, estivesse ornamentado com flores de amendoeira.
Queridos irmãos, este é um momento para nos revestirmos da vitalidade da amendoeira! Que neste “inverno” possamos florir. Que a força da primavera que se aproxima, inunde a nossa vida e que apoiados nesse ramo de amendoeira, iluminados pela luz que vem de Deus, sejamos voz que anuncia a esperança, a alegria da manha de Páscoa.

Pe António Estêvão Fernandes


Nota da redacção: Texto publicadono JUBILATE, Boletim Paroquial da Paróquia da Visitação, passados 8 dias da tempestade que truncou a vida a 12 pessoas daquela paroóquia.

EM LOUVOR DO FUNCHAL



Um dia, que esperamos não muito distante, a imagem desta baía em ruínas, soterrada hoje em lama e pranto, há-de dar lugar, de novo, à paisagem verdadeira. Passaremos deste inverno intransigente e funesto à clemência de uma estação que devolva ao Funchal a sua luz.


As buganvílias voltarão a estender placidamente sobre as ribeiras os seus braços brancos, rosa, cor-de-vinho; a árvore de fogo do Largo do Colégio levantará mais alto o seu deslumbre; os Jacarandás repetirão o assombro colorido; as Tipuanas desdobrarão, nos inícios de Junho, um incrível tapete amarelo frente a São Lourenço ou na subida de Santa Luzia.


Esperamos que, num tempo não distante, se possa reconhecer, de novo, a limpidez do traçado atlântico do centro, as ruas confusamente populares, o arabesco do mercado, o mesmo desenho de cheiros, a mesma mescla de sonoridades, o brando silêncio que nas praças tem o seu quê de familiaridade tímida, quase cerimoniosa.


Encravado na forma de uma concha há cinco séculos, burgo marítimo de referência, com construção fantasiosa, o Funchal foi a primeira cidade europeia nascida fora da Europa. O resultado é um património humano e urbanístico únicos. Evoca, é claro, o modelo de algumas cidades continentais, mas já é outra coisa, como acontece aos territórios de fronteira. É uma cidade reservada e extravagante, cosmopolita e primitiva, enérgica e indolente. Tanto como outras, mas diferente, de uma maneira que é só sua. Por exemplo, em certas horas vazias, as inúmeras varandas terrestres espalhadas pelas encostas parecem colocadas num imenso navio como os que muitas vezes ali aportam, e sente-se (isto é real) que toda a cidade flutua.


O Funchal é, ainda que isso seja escassamente recordado, uma cidade literária, como Trieste ou Marraqueche: ali não apenas nasceram Edmundo Bettencourt, Cabral do Nascimento, Herberto Helder ou Ana Teresa Pereira, nasceram os seus universos.


Conta-se que o poeta António Nobre gravou a canivete numa árvore do Funchal: “sede de luz como que de relâmpagos”. Um dia, que esperamos não muito distante, chegará a luz.

José Tolentino Mendonça© SNPC 25.02.10