terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"Não é vergonha pedir para comer"

"Não precisa de ter vergonha de pedir o que comer", insiste Maria dos Anjos. (Há frases que ficam a retinir dentro do peito, que nos esmagam os preconceitos e nos dizem - mesmo para quem odeia o vocábulo -: "Não precisa de ter vergonha por pedir de comer." Esta frase, os sorrisos sinceros, a ajuda de facto, a certeza de que quando tudo falha, quando a sociedade se engole, ainda existe um último reduto. Para uma geração céptica, dividida pelos ensinamentos dos pais, forçados a valorizar as pequenas grandes coisas como a dignidade, saber que há pessoas que trabalham a ajudar realmente pessoas, sem contrapartidas maiores do que o salário, é um bálsamo. Vale a pena lutar, só é preciso escolher as armas. A palavra, o gesto, um prato de comida.)"

Vasco Neves
in DN 07-12-2008

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

ESPERAR...

Após um longo tempo de ausência, regresso a este "cantinho" com um texto que se enquadra no nucleo da vida de cada Homem, e também no núcleo deste tempo do Advento, tempo de espero de Deus feito menino Deus...

"Amar alguém, ou seja, esperar desse alguém um não sei quê de indefinível e imprevisível;
e, ao mesmo tempo, dar-lhe, dum modo qualquer, os meios para que ele possa corresponder ao que esperamos.
Por mais paradoxal que possa parecer, esperar é já, de algum modo, dar;
o inverso é igualmente verdadeiro:
nada esperar é a nossa contribuição para a esterilidade daquele de quem já nada se espera,
é a nossa maneira de o frustrar, retirando-lhe de antemão essa última possibilidade de inventar e criar.
Tudo nos leva a crer que só se pode falar de esperança onde haja essa interacção entre aquele que dá e aquele que recebe, essa comutação que é a marca da verdadeira vida espiritual."
Gabriel Marcel

domingo, 21 de setembro de 2008

PROCURA-SE UM AMIGO (IV)

"Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver,
não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo para se parar de chorar.
Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando,
mas que nos chame de amigo,
para ter-se a consciência de que ainda se vive."

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

PROCURA-SE UM AMIGO (III)

"Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos,
que se comova, quando chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas
e das recordações de infância.
Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer,
para contar o que se viu de belo e triste durante o dia,
dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados,
de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim."
Vinicius de Moraes

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

PROCURA-SE UM AMIGO (II)

"Não é preciso que seja de primeira mão,
nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados.
Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro,
mas não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser,
deve sentir o grande vácuo que isso deixa.
Tem que ter ressonâncias humanas,
seu principal objectivo deve ser o de amigo.
Deve sentir pena das pessoa tristes e
compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer."

Vinícius de Moraes

terça-feira, 12 de agosto de 2008

PROCURA-SE UM AMIGO (I)

"Não precisa ser homem, basta ser humano,
basta ter sentimentos, basta ter coração.
Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir.
Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua,
do canto, dos ventos e das canções da brisa.
Deve ter amor, um grande amor por alguém,
ou então sentir falta de não ter esse amor.
Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredo sem se sacrificar."

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Entre partidas e regressos...

Nestes meus ultimos dias...
Por entre a alegria de um percurso terminado...
E pela "nostalgia" de "dias" de "face to face" que agora se reconstroem...
Muitas vezes....por entre cafés e gelados... preenchi a memória...por:


"Paga-me um café e conto-te a minha vida."

O Inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores

O céu quebrava-se aos disparos
de uma criança muito assustada
que corria
O vento batia-lhe no rosto com violência
A infância inteira
disso me lembro

Outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
Apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu ,não, nunca choraste
Por amores que se perdem

Os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas ,acreditas?
E temos saudades desse mar
que derruba primeiro no nosso corpo
tudo o que seremos depois.

"Pago-te um café se me contares o teu amor."
José Tolentino Mendonça
PARA TODOS AQUELES QUE ME DEIXAM SAUDADES DESTE MAR....

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Para silênciar...


“Se eu não tivesse o Senhor ao meu lado,
penso que não conseguiria crescer na dor.
Ser prisioneiro coloca-te numa situação de humilhação constante.
És vítima do arbítrio completo, conhece-se o que há de mais vil na alma humana.
Face a isso, há dois caminhos. Ou endurecemos, e aí tornamo-nos ásperos, vingativos, deixando que o coração se encha de rancor.
Ou escolhemos o outro caminho, aquele que Jesus nos mostrou.
Ele pede-nos: ‘Bendiz o teu inimigo’”.

Ingrid Betancourt

sábado, 5 de julho de 2008

Presença mais pura

Nada do mundo mais próximo
mas aqueles a quem negamos a palavra
o amor, certas enfermidades, a presença mais pura
ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância da língua comum deixaste
o teu coração?»
A altura desesperada do azul
no teu retrato de adolescente há centenas de anos
a extinção dos lírios no jardim municipal
o mar desta baía em ruínas ou se quiseres
os sacos do supermercado que se expandem nas gavetas
as conversas ainda surpreendentemente escolares
soletradas em família
a fadiga da corrida domingueira pela mata
as senhas da lavandaria com um "não esquecer" fixado
o terror que temos
de certos encontros de acaso
porque deixamos de saber dos outros
coisas tão elementares
o próprio nome
Ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância deixaste
o coração?»


José Tolentino Mendonça
de A Que Distância Deixaste o Coração

quinta-feira, 3 de julho de 2008

NÃO TE DETENHAS...

Tem sempre presente, que a pele se enruga,o cabelo embranquece, os dias convertem-se em anos ....
Mas o que importa, não muda:
a tua força e convicção não tem idade;enquanto tu estás vivo, sente-se vivo.
O espírito é como qualquer teia de aranha.
Atrás de cada linha de chegada, há uma partida.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas...
Continua, quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não conseguires correr atrás dos anos, trote.
Quando não conseguires trotar, caminha.
Quando não conseguires caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas."
Madre Teresa de Calcutá

terça-feira, 17 de junho de 2008

NOVA CERTEZA...

«Nova certeza: que querem o nosso extermínio. Também isso eu
aceito. Sei-o agora. Não vou incomodar outros com os meus me-
dos, não vou ficar amargurada se outras pessoas não entenderem
do que se trata, para nós, judeus. Esta certeza não vai ser corroída
ou invalidada pela outra. Trabalho e vivo com a mesma convicção e
acho a vida prenhe de sentido, cheia de sentido apesar de tudo, em-
bora já não me atreva a dizer uma coisa dessas em grupo.
O viver e o morrer, o sofrimento e a alegria, as bolhas nos meus pés
gastos e o jasmim atrás do quintal, as perseguiçoes, as incontáveis
violências gratuitas, tudo e tudo em mim e como se fosse uma forte
unidade, e eu aceito tudo como uma unidade e começo a entender
cada vez melhor, espontaneamente para mim, sem que ainda o con-
siga explicar, e se isso não me for dado, pois bem, nesse caso uma
outra pessoa irá fazê-lo e então um outro continuará a viver a minha
vida, ali onde a minha foi interrompida, e por isso tenho de viver a
minha vida tão bem e tão completa e convincentemente quanto pos-
sível até ao meu derradeiro suspiro, para que o que vem a seguir a
mim não precise de começar de novo nem tenha as mesmas dificuldades.»
Etty Hillesum, Diário, ed. Assirio e Alvim
Simplesmente fantástico!!

sábado, 10 de maio de 2008


Tudo o que não cresce, decresce e arrisca-se a desaparecer.

Este parece ser um princípio básico da vida.

Não há meio termo, ninguém fica de fora desta realidade.

Se deixo de investir numa relação, ela não se aguenta;

se não dou continuidade à minha formação, deformo-me inevitavelmente, e por aí fora...

E quem não continua a investir na fé e no amor, corre o risco de perder ambas as coisas.


Vasco Pinto Magalhães, Não ha soluções, ha caminhos

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Salto decisivo


"A autenticidade tem muito de corajoso. Por vezes é muito difícil perceber o que somos e aquilo que acontece dentro de nós. Talvez porque nos habituamos a ter uma determinada imagem de nós próprios e qualquer novidade obriga-nos a mudar os nossos esquemas e rotinas.
Muitas vezes, porque o queremos, a luz de qualquer coisa nova faz tanto sentido que nem sequer olhamos às consequências. Sobretudo quando este salto tem a marca do amor e da verdade, somos coerentes com os nossos desejos mais fundo e uma luz especial ilumina o nosso olhar.
Mas quando saltamos para um escuro pouco verdadeiro, imediatamente sentimos uma espécie de medo de que algo que nos pode magoar. ou magoar alguém.
O tempo diz muito acerca do que acontece quando arriscamos. Mas se há algo a que nos podemos agarrar é a nossa história de sinais completos. Não é imediato percebe-la, mas é importante parar para a reconhecer. Talvez este seja o primeiro salto decisivo."

António Valério

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A propósito de algo que me chegou às mãos...


«Coragem! Quanto baste, para esse moinho girar.

Se voando, vivo sempre.

É porque o céu meu descobriu.

Girando, vagueando, pelo infinito surgir.

A mágoa sentida de quem nunca a viu.

Longa roda no cimo do cume.

Parecendo Deus dizendo: Parem, Escutem,

A Coragem apareceu!»


(notempodaspalavras)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A que distância fica o perdão....

"Uns antropólogos encontraram uma tribo na Africa do Sul, um povo chamado Babemba onde, de cada vez que um elemento do grupo comete um deslize significativo, foge às normas, erra de forma saliente, toda a tribo pára o que está a fazer e reúne-se em círculo, no centro da aldeia. Aí chegados, o «pecador» ou «pecadora» senta-se no meio do círculo, qual alvo. Então, todos os presentes, das crianças aos anciãos, partilham histórias positivas que viveram com o «culpado» ou «culpada», sublinhando-lhe as qualidades e o melhor do seu passado. A reunião pode demorar horas, mantendo-se viva até haver assunto. Publicamente, e num momento conjunto de conforto com a falha humana, o que o grupo faz é relembrar o bom e não dedicar atenção ao erro, como se todos dissessem: Perdoamos-te. Hoje erraste, mas o que realmente nos importa é sublinhar e dar voz a todas e tantas vezes em que nos orgulhámos do ser humano que és. A tua pessoa é maior do que as tuas falhas."
In O poder do perdão...Robert Enright

domingo, 13 de abril de 2008

A propósito do domingo do bom pastor....


"O pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu... Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos vários verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mas reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem,
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito."

in O pastor amoroso - Alberto Caeiro

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Escuro...


"Nesta história, não há nada que as crianças não possam saber. Contudo, elas não a ouviram. Contei-a apenas ao escuro, a mais ninguém. E as crianças têm medo do escuro e fogem dele e se alguma vez tiverem de permanecer nele, fecham os olhos e tapam os ouvidos. Mas para elas também virá o tempo em que gostarão do escuro. Com ele aprenderão a minha história e então irão entendê-la melhor."

RR in Histórias de Deus

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Voltar aos bosques....


MENOS PARA TI

"O que se diz do inverno pode dizer-se da juventude
é uma estação abstracta
numa hora qualquer acabamos com frio
como se o tempo não consentisse mais
o desprovido transporte que por vezes
demasiadas vezes é o daquela verdade

Mas o jogo de alguma coisa
está mais longe ou mais perto

Nem tu sabes por quantos anos ainda
voltarás aos bosques
aos detalhes que ignoravas
ao que resta do primeiro amor
a que todos pensam ter sobrevivido"


JTM in De Igual para Igual

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008


"...As coisas nao sao todas tao apreensiveis e diziveis como muitas vezes se gostaria de nos fazer crer; a maior parte dos eventos sao indiziveis, prefazem-se num espaco que nunca foi tocado por uma palavra, e mais indiziveis que tudo sao as obras de arte, existencias secretas cuja vida perdura enquanto a nossa passa. ...Uma obra de arte e boa quando nasce da necessidade. nesta sua maneira de irromper esta o seu veredicto: nao ha mais nenhum.Por isso, meu caro Senhor, nao podia dar-lhe outro conselho alem deste: entrar em si mesmo e examinar as profundezas de que brota a sua vida; nas nascentes dela econtrara resposta a pergunda sobre se deve criar..."

Rainer Rilke, Cartas a um jovem poeta

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

E foi Dezembro...

E foi Dezembro
Dito Em tua voz
Que as minhas mãos
Colheram Devagar.

E foi Dezembro
Escrito
Quando a sós
Tudo disseste
Quase Sem falar.

Foi um palco
Vazio
A acontecer
No frio
Que se ergueu
Dentro de nós.

Uma distância
O mar
Que se estendeu
A separar da minha
A tua mão.
E foi Dezembro Inteiro
A anunciar
A solidão
Dos dias
Por nascer.

E foi Dezembro
À chuva a reviver
As pedras
E os rios
E os luares.

Os nomes
Que vestiam
Os lugares
E os sonhos
Repartidos
Que não fomos.

A coragem
Nascida
De aceitar
A verdade de ser
O que hoje somos.

E foi Dezembro
Vivo
Na roseira
Despida
No silencio
Do jardim.

E foi Dezembro
Ainda na cegueira
Das asas de uma ave
Que há em ti.

Foi um tempo
De amantes
A aprender
Que não deve esquecer-se
O verbo amar.

Ou um inverno
Apenas
A perder-se
Da primavera
Do primeiro olhar.

Luís Represas

Urgentemente


"É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros
e a luz impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente permanecer."
Eugénio A.

domingo, 27 de janeiro de 2008


"Das pesadas trevas que ficam no nosso passado com as quais conservamos uma relação vaga e débil, surge um momento em que depositamos nele todas as nossas primicias, toda a confiança, as sementes de tudo quanto um dia pôde florescer. E de repente, percebemos: tudo se afundou num mar imenso e nem sequer sabemos quando. Nunca damos por isso. Como se alguém juntasse todo o seu dinheiro e fosse comprar uma pena e adornasse com ela o chapéu, que a primeira brisa arrasta. Chegamos naturalmente a casa sem a pena, e nada resta senão olhar para trás e pensar quando é que ela poderá ter desaparecido."
RR

A vida dos "e pelos" livros...


"O livro, atenta a natureza da necessidade que visa satisfazer, é um bem complexo. Por se destinar a ser consumido pelo pensamento, não pode considerar-se uma simples mercadoria. As leis meramente económicas não lhe podem esgotar a vida. Basta que cada um de nós evoque as primeiras leituras e considere as impressões que delas lhe ficaram pela vida fora para reconhecer na palavra que o livro transmite uma chave que nos abre um mundo em pleno coração. A palavra reconstrói-nos as coisas na inteligência e tão hábil se revela em instalar-se no mais intimo de nós que, por muito ingénua que seja, sempre precipita uma deliberação e orienta a face para determinado comportamento."

RB

Houve quem dormisse...

"Houve também quem dormisse para aprender até ao mais fundo como a memória respira, como o desejo e o corpo respiram, como respira a treva. Tornou-se sábio, este, à força da respiração nocturna. Tivera revelações, sabia dos nascimentos, das formas imóveis, cores dobradas no escuro, dolorosamente, até que delas rebentava a luz aterradora das paisagens."
HH

De olhos na noite

"Reconhece então os sinais da sua vida e algures recomeça uma antiga dor e, a negro, essa dor vai enchendo a folha vazia e é como uma casa que os fantasmas em visita demandassem pela noite fora. Tudo se enreda e confunde, tudo se desmorna e reconstroi quando ele vê um país distante, no sul da sua melancolia, e é um país de fogo, com vastos incêndios à volta e um vulcão à espreita na sua alma. Ele estremece. Um cão ladra muito alto. Um relampago fulmina a noite e ele tem medo. Na folha outrora branca, vazia, há agora uma densa sombra de mistérios que alastra. Não há paz para o seu coração e os olhos que ardem fixam-se num lugar muito longe onde canta o pássaro invisível do poema e das estrelas. Em silêncio, só, ele continua a escrever."
JAB