sexta-feira, 25 de março de 2016

Recriados no Teu sangue...




“Então Deus modelou o homem com a argila do solo,
insuflou em suas narinas um hálito de vida
e o homem tornou-se um ser vivente!” (Gn 2,7)

Há momentos em que somos surpreendidos pelo som de Deus!
Não! Não são os passos no Edén das origens…
É sim o som dessa estaca em forma de cruz que habita o monte Calvário…
Esse som que desenhou a radicalidade de Deus…
na Sua relação com cada um de nós!

Não poucas vezes desejamos ter o Teu coração, o Teu amor, o Teu olhar...
a Tua vida…a Tua sensibilidade…enfim, a Tua coragem…
Hoje, sugiro que habite o coração do homem um desejo diferente
ouso dizer que recusem subir à Tua cruz…
ouso dizer que recusem levantar olhos para Ti, como aquele centurião…
ouso dizer que recusem chorar como as mulheres de Jerusalém…

Hoje, atrevo-me a Te pedir que coloques no coração do homem
o desejo de que a argila de que foi formado …seja a argila daquele lugar onde assenta o som seco e frio da cruz em que Te sustentas a descansar como estandarte de vida levantado!
Hoje, Senhor, não quero olhar a Cruz…
quero sim olhar a argila da minha existência…
não quero levantar a cabeça…
quero prostrar-me, quero sentir esse frio que habita esta argila
tantas vezes sem o hálito da Vida…
Hoje, Senhor, não quero que a lança do soldado volte a perfurar o Teu peito…
mas que rasgue esta argila… que abra nela um sulco onde, hoje, possa assentar, a cruz que Te sustenta!
Hoje, Senhor, não quero matar a Tua sede com o vinagre da minha existência…
mas apenas que concedas o dom que este sulco humano de argila… seja cálice que acolhe esses fios fulminantes do Teu sangue…

Não quero ser argila partida pela secura do afastamento de Ti…
argila por onde tantas vezes escapou esse hálito vital!

Faz Senhor que o monte calvário habite por uns instantes o meu coração…
quero ser sulco, cálice de argila ressequido, que acolhe e recolhe Teu sangue…
Hoje, Senhor, humildemente Te peço…
que a argila da minha existência seja amassada no Teu sangue!
Quero sentir esse riacho de sangue que no Edén re-criado do calvário
levanta o homem do pó da terra!
Quero viver de Ti, em Ti!

Pe António Estêvão Fernandes

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