sábado, 25 de outubro de 2014

"Descolar-nos"


Sob a pena imaginária de Adriano, 
nas palavras de uma carta nunca escrita, 
Marguerite Yourcenar dá-nos o colorido de uma história pessoal cheia de peripécias, 
rica em reencontros e feita de decisão, coragem e inteligência. 
Dá-nos também o acesso, com uma mestria sem igual, 
a um mundo que nos já se tornou distante de nós nos hábitos, 
nos valores e nas crenças, aquele do Império romano. 
Mas, oferece-nos algo ainda mais precioso. 
Oferece-nos um espelho. 
A história de Adriano, contada de uma distância nostálgica em relação a todo o vivido, 
é uma porta para a nossa própria história, 
para os seus caminhos mais ou menos tortuosos, 
para os dias em que tomámos decisões 
e
para os dias em que outros as tomaram por nós. 
Talvez por isso o exercício de ler este pequeno grande livro 
pode 
verdadeiramente 
‘descolar-nos’. 
Pode deixar-nos em suspenso das linhas 
tantas vezes imperceptíveis da nossa história pessoal. 
Convida-nos também, sem moralismos, a ir além dos caprichos, 
além das nossas ‘pequenas verdades’, 
num esforço de superação que nos devolva ao essencial, 
ao esquecido, às memórias grávidas de futuro.

Francisco Martins, sj 16.07.2013

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