«Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis!» (Isaías 63, 19). O profeta abre o Advento como um mestre do desejo e da espera. Jesus preenche a espera de atenção.
São as mães que conhecem profundamente a espera, que a aprendem durante os meses em que o seu ventre cresce de vida nova. Esperar é o infinito do verbo amar.
Advento é um tempo de caminhantes: tudo se faz mais próximo, Deus de nós, nós dos outros, eu de mim próprio. Um tempo em que se abreviam distâncias, entre céu e terra, entre homem e homem, e se começam caminhos.
No Evangelho deste domingo o proprietário parte e deixa tudo nas mãos dos seus servos, a cada um a sua tarefa. Uma constante de muitas parábolas, onde Jesus narra o rosto de Deus que deixa o mundo nas nossas mãos, que confia as suas criaturas à inteligência fiel e à ternura combativa do homem.
Mas há um duplo risco que pende sobre nós. O primeiro, avisa Isaías, é o do coração endurecido: «Porque nos deixais desviar dos vossos caminhos?». A dureza do coração é a doença que Jesus mais teme, que combate nos fariseus, que quer curar com todo o seu ser. Máximo, o Confessor, dizia: «Quem tem o coração doce será perdoado».
O segundo risco é viver uma vida adormecida. O Evangelho entrega-nos uma vocação para o despertar, porque «sem despertar não se pode sonhar» (R. Benigni).
O risco diário é uma vida adormecida, incapaz de colher chegadas e inícios, amanheceres e nascentes, de ver a existência como uma mãe à espera, grávida de luz; uma vida distraída e sem atenção.
Viver com atenção. Mas a quê? Atentos às pessoas, às suas palavras, aos seus silêncios, às perguntas mudas, a cada oferta de ternura, à beleza de ser vida grávida de Deus.
Atentos ao mundo, nosso planeta bárbaro e magnífico, às suas criaturas mais pequenas e indispensáveis: a água, o ar, as plantas. Atentos ao que acontece no coração e no pequeno espaço em que me movo.
Somos argila nas tuas mãos. Tu és aquele que nos dá forma (cf. Isaías, primeira leitura de Domingo). O profeta convida a perceber o calor, o vigor, a carícia das mãos de Deus, que cada dia, numa criação imparável, nos plasma e dá forma, que nunca nos deita fora se o nosso vaso não sai bem, mas que nos coloca sempre de novo sobre o torno do oleiro.
Ermes Ronchi
In "Avvenire"
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