As barcas não foram construídas para ficar ancoradas na segurança dos portos.
Porque tendes assim tanto medo?
Deus não está noutro lugar e não dorme.
Está já aqui,
está nos braços dos homens, fortes a remar;
está no timoneiro que se agarra ao leme;
está nas mãos que lançam fora a água que alaga a barca;
nos olhos que perscrutam a margem,
na ânsia que antecipa a luz da aurora.
Deus está presente,mas ao seu modo;
quer salvar-me, mas fá-lo pedindo-me que meta em jogo todas as minhas capacidades,
todas as forças do coração e da inteligência.
Não intervém no meu lugar, mas ao meu lado;
não me livra da travessia, mas acompanha-me na escuridão.
Não me guarda do medo, mas no medo.
Assim como não salvou Jesus da cruz, mas na cruz.
Toda a nossa existência pode ser descrita como uma travessia perigosa,
uma passagem para a outra margem, da vida adulta, responsável, boa.
Uma travessia é iniciar um matrimónio;
uma travessia é o futuro que se abre diante da criança;
uma travessia tormentosa
é tentar recompor feridas,
reencontrar pessoas,
vencer medos,
acolher pobres e estrangeiros.
uma passagem para a outra margem, da vida adulta, responsável, boa.
Uma travessia é iniciar um matrimónio;
uma travessia é o futuro que se abre diante da criança;
uma travessia tormentosa
é tentar recompor feridas,
reencontrar pessoas,
vencer medos,
acolher pobres e estrangeiros.
Gostaria que o Senhor gritasse já ao furacão: cala-te;
e às ondas: acalmem-se;
e à minha angústia repetisse: acabou.
Gostaria de ficar livre da luta,
mas Deus responde chamando-me à perseverança,
multiplicando-me as energias;
a sua resposta é força para a primeira remada.
E a cada uma, Ele a renovará.
Não te importa que morramos?
A resposta, sem palavras, é dita pelos gestos:
importo-me de ti,
importa-me a tua vida,
tu és importante.
Importam-me os pássaros do céu,
e tu vales mais que muitos pássaros,
importam-me os lírios do campo,
e tu és mais belo que eles.
A resposta, sem palavras, é dita pelos gestos:
importo-me de ti,
importa-me a tua vida,
tu és importante.
Importam-me os pássaros do céu,
e tu vales mais que muitos pássaros,
importam-me os lírios do campo,
e tu és mais belo que eles.
Tu importas-me
ao ponto de ter contados os cabelos da tua cabeça
e todo o medo que trazes no coração.
E estou aqui.
A fazer-me baluarte e fronteira para o teu medo.
Estou aqui no reflexo mais profundo das tuas lágrimas,
como mão forte sobre a tua, entrada em porto seguro.
Ermes Ronchi, acerca de Mc 4, 35-41
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