Estar na presença de Deus de forma activa e vigilante.
O sacerdote, atento às necessidades dos homens e do mundo em que vive,
deve manter o mundo desperto para Deus.
Deve ser alguém que está de pé:
firme diante das correntes do tempo,
firme na verdade,
firme no compromisso pelo bem,
disposto a suportar tudo pelo Senhor,
até as dificuldades, a solidão e eventuais fracassos.
Estar diante do Senhor deve ser sempre,
no mais profundo,
também um ocupar-se dos homens diante do Senhor
e um ocupar-se d´Ele,
de Cristo,
da Sua Palavra,
da Sua Verdade,
do Seu Amor junto dos Homens.
Tal como no caso de Salomão,
seja o fruto da vossa oração
“um coração sábio e esclarecido”
um verdadeiro coração de Pastor,
que ama e dá a vida pelo seu rebanho.
D. António Carrilho, Julho de 2008
sábado, 26 de julho de 2014
O cansaço como enfermidade...
Ora, a acreditar em Byung-Chu Han,o alemão de origem coreana
que é uma das vozes filosóficas mais originais da cena contemporânea,
a doença representativa do nosso tempo é o cansaço.
E o pior é que todas as previsões coincidem no agravamento das tendências.
Estas enfermidades não são infeções,
mas estados de alma,
modalidades vulneráveis de existência,
fragmentação da unidade interna,
incapacidade de integrar e refazer a experiência do vivido.
A verdade é que as nossas sociedades ocidentais
estão a viver uma silenciosa mudança de paradigma:
o excesso (de emoções, de informação, de ofertas, de solicitações…)
está a atropelar a pessoa humana
e a empurra-la para um estado de fadiga,
de onde é cada vez mais difícil retornar.
O risco é o aprisionamento permanente nessa armadilha
como explicava profeticamente Fernando Pessoa:
«Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado não sei:
De nada me serviria sabê-lo
Pois o cansaço fica na mesma».
Valia a pena pensar nisto.
José Tolentino Mendonça
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Amar as perguntas
"Você é tão jovem ainda, está diante de todos os inícios, e por isso gostaria de lhe pedir, caro Senhor, que tenha paciência quanto a tudo o que está ainda por resolver no seu coração e que tente amar as próprias perguntas como se fossem salas fechadas ou livros escritos numa língua muito diferente das que conhecemos. Não procure agora respostas que não lhe podem ser dadas porque ainda não as pode viver. E tudo tem de ser vivido. Viva agora as perguntas. Aos poucos, sem o notar, talvez dê por si um dia, num futuro distante, a viver dentro da resposta. Talvez traga em si a possibilidade de criar e de dar forma e talvez venha a senti-la como uma forma de vida particularmente pura e bem-aventurada; é esse o rumo que deverá tomar a sua educação; mas aceite o que está por vir com grande confiança, e se ele surgir apenas da sua vontade, de uma qualquer necessidade interior, deixe-o entrar dentro de si e não odeie nada.”
Rainer Maria Rilke, “Cartas a um Jovem Poeta”, Carta Quatro,
“Worpswede, junto a Bremen”, 16 de Julho de 1903.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Há sempre algo a fazer!
Passamos a vida a seguir instruções que,
apesar de importantes e estruturais,
nos enchem de nós,
difíceis de desatar pela confiança e criatividade.
Fazemos assim, porque foi assim que aprendemos.
Mas precisamos, também,
de nos colocarmos diante de nós próprios e do mundo
e criarmos a partir de todas as regras e guias,
de fechar os olhos
e encontrar dentro de nós
as peças para seguir caminho,
por mais indecifráveis que pareçam.
Às vezes a ruptura de estruturas do quotidiano,
práticas ou afetivas desligam luzes interiores,
apagam a nossa confiança, vontade
e ficamos como o Hugo,
com blocos gigantes diante de nós, difíceis de gerir.
É aqui que a criatividade,
este motor criativo que nos move por dentro,
entra como fonte de salvação, de vida
e que nos leva a dizer:
e agora, o que posso fazer?
Há sempre algo a fazer!
apesar de importantes e estruturais,
nos enchem de nós,
difíceis de desatar pela confiança e criatividade.
Fazemos assim, porque foi assim que aprendemos.
Mas precisamos, também,
de nos colocarmos diante de nós próprios e do mundo
e criarmos a partir de todas as regras e guias,
de fechar os olhos
e encontrar dentro de nós
as peças para seguir caminho,
por mais indecifráveis que pareçam.
Às vezes a ruptura de estruturas do quotidiano,
práticas ou afetivas desligam luzes interiores,
apagam a nossa confiança, vontade
e ficamos como o Hugo,
com blocos gigantes diante de nós, difíceis de gerir.
É aqui que a criatividade,
este motor criativo que nos move por dentro,
entra como fonte de salvação, de vida
e que nos leva a dizer:
e agora, o que posso fazer?
Há sempre algo a fazer!
Luísa Sobral, in Essejota.net, 07.07.2014
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Quantidade vs Qualidade
« A quantidade de experiências e a sua intensidade
só servem para nos aturdirem.
Viver demasiadas experiências costuma ser prejudicial.
Não penso que o homem seja feito para a quantidade,
mas para a qualidade.
Quando alguém vive para coleccionar experiências,
acaba por ficar aturdido,
porque elas oferecem-lhe horizontes utópicos,
esmagam-no...
confundem-no...»
Pablo D'Ors in A Biografia do Silêncio
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Silêncio feliz
"Silêncio feliz.
Sou um homem feliz porque nasci.
E porque me sei calar.
Calar-se é nascer de novo."
Sou um homem feliz porque nasci.
E porque me sei calar.
Calar-se é nascer de novo."
Clarice Lispector
sexta-feira, 4 de julho de 2014
Ninguém que ame a vida....
"Ninguém que ame a vida
desejaria imitar a dedicação dela (Simone Weil) pelo martírio,
nem desejaria tal coisa para os seus filhos
ou para alguém a quem tenha amor.
E no entanto se amamos a seriedade,
assim como a vida, a vida dela (Simone Weil)
comove-nos, sustenta-nos.
Ao prestar homenagem a tais vidas,
estamos a reconhecer a presença do mistério no mundo
- e o mistério é precisamente o que é negado pela segura posse da verdade,
uma verdade objectiva.
Neste sentido,
toda a verdade é superficial;
e algumas (mas não todas) distorções da verdade,
algumas (mas não todas) loucuras,
algumas (mas não todas) negações da vida,
são fontes de verdade,
produzem sanidade mental,
criam saúde,
e tornam melhor a vida."
desejaria imitar a dedicação dela (Simone Weil) pelo martírio,
nem desejaria tal coisa para os seus filhos
ou para alguém a quem tenha amor.
E no entanto se amamos a seriedade,
assim como a vida, a vida dela (Simone Weil)
comove-nos, sustenta-nos.
Ao prestar homenagem a tais vidas,
estamos a reconhecer a presença do mistério no mundo
- e o mistério é precisamente o que é negado pela segura posse da verdade,
uma verdade objectiva.
Neste sentido,
toda a verdade é superficial;
e algumas (mas não todas) distorções da verdade,
algumas (mas não todas) loucuras,
algumas (mas não todas) negações da vida,
são fontes de verdade,
produzem sanidade mental,
criam saúde,
e tornam melhor a vida."
Susan Sontag in Contra a Interpretação e outros ensaios
acerca de Simone Weil
quarta-feira, 2 de julho de 2014
Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto
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