«Queres saber quem és para mim. Eis, então: tu és
aquela que me impede de me bastar. Tu deste-me a coisa mais preciosa de todas:
a falta!»
Christian Bobin é um escritor francês de 65 anos,
marcado por uma forte espiritualidade e com obra traduzida em Portugal, embora
muito reduzida.
As palavras que hoje citamos constituem provavelmente
a substância mais íntima do amor: não é por acaso que são ditas a Ghislaine, a
mulher amada.
A autenticidade do amor, o seu grande dom humano e
espiritual é precisamente este: fazer-te compreender que precisas do outro, que
não te bastas a ti próprio, que a autossuficiência e o orgulho são ilusões e
que o egoísmo é pobreza.
Sentir a falta é descobrir não um vazio mas uma abertura
e uma potencialidade altíssima, a de acolher o outro dentro de si próprio e só
assim sentir-se preenchido, feliz, realizado.
Esta mesma consideração vale para todo o verdadeiro
amor, incluído o místico, que é descoberta da falta de um Outro que seja para
ti fonte de plenitude.
Por isso é perigoso o momento em que não se sente
falta de ninguém, no convencimento de bastar-se a si mesmo. Esta é a condição
da morte do espírito.
Para quem ama, pelo contrário, a existência torna-se
como Bobin a descrevia no romance “Geai”: «A vida é um presente que abro a cada
manhã, quando desperto. A vida é um tesouro de que descubro a parte mais bela a
cada noite antes de fechar os olhos».
P. Gianfranco Ravasi
Sem comentários:
Enviar um comentário