Um casal muito pobre ia celebrar o aniversário do seu matrimónio. Ele dava voltas e mais voltas à cabeça, sem sucesso, pensando como conseguir umas poucas moedas para presentear a mulher que tanto amava e que o tinha acompanhado durante quase toda a sua vida. Até que teve uma ideia que lhe causou calafrio: poderia vender o cachimbo, com o qual todas as tardes se sentava a fumar à porta da sua casa. Com o dinheiro, podia oferecer à sua mulher um pente, para que pudesse pentear o seu belo e longo cabelo, que cuidava com tanto esmero.
Finalmente, com o coração pesaroso e alegre ao mesmo tempo, aquele homem vendeu o seu cachimbo e aproximou-se de casa, levando envolvido num pobre papel o pente que tinha comprado. Lá o esperava a sua mulher, que tinha vendido o seu bonito cabelo negro para oferecer ao seu marido o melhor tabaco para o seu cachimbo.
O amor cristão caracteriza-se por supor entrega, dom de si, desprendimento e sacrifício de um pelo outro. Quando Inácio de Loyola fala do amor, diz que há duas coisas a ter em atenção: «a primeira é que o amor deve pôr-se mais nas obras do que nas palavras; a segunda é que o amor consiste em comunicação recíproca, a saber, em dar e comunicar a pessoa que ama à pessoa amada o que tem ou do que tem ou pode; e, vice-versa, a pessoa que é amada à pessoa que ama; de maneira que, se um tem ciência, a dê ao que a não tem, e do mesmo modo quanto a honras ou riquezas; e assim em tudo reciprocamente, um ao outro» (Exercícios Espirituais, 230-231). Não se pode amar sem entregar o melhor de nós mesmos na relação.
Trad. / adapt.: Rui Jorge Martins
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