Vigiar significa não nos
reduzirmos a apagar os instintos sociais cujo nome é interesse, lucro,
vantagem. Com efeito, Jesus Cristo veio para «nos ensinar a viver neste mundo»
(Tito 2,12), ou seja, para nos ensinar um modo de viver as relações, de plasmar
uma geração, de criar uma civilização, em síntese, um modo de estar no mundo
segundo a vontade de Deus.
Por isso, vigiar é precisamente o
contrário daquele não se dar conta de nada. Vigiar é dar-se conta de tudo.
Dizendo «vigiai», o Senhor diz a cada um de nós: «Dai-vos conta de tudo», isto
é, sê tudo em cada coisa. Coloca tudo aquilo que és na mais pequena coisa que
fazes. Sê inteiro e não excluas nada de ti.
Vigiar significa então dar-se conta de que
na nossa humanidade e a nossa fé joga-se inteiramente nas ações grandes ou
pequenas que cada dia cumprimos e nas palavras importantes ou simples que saem
da nossa boca.
Vigiar significa estar consciente de que a
qualidade do nosso estar no mundo é dada pelas escolhas como pelas renúncias a
que cada dia somos chamados, muitas vezes forçados, a fazer.
Vigiar é uma decisão da vontade e não um
impulso do instinto. Sempre que se vigia noite adentro, deve estar-se preparado
para o cansaço, para a resistência, até à luta consigo próprio, com os seus
medos, as fraquezas, o torpor do sono. Mas preparar-se também para a fadiga de
exercitar a inteligência iluminada pelo Evangelho, única condição para não se
adequar passivamente àquilo que todos dizem e todos fazem.
Só quando constatarmos a distância e, por
vezes, a total incompatibilidade do nosso pensar com o pensamento dominante, é
que teremos então começado a ter em nós «o pensamento de Cristo» (1 Coríntios
2,16). Vigia por Cristo quem tem o pensamento de Cristo.
Ir. Goffredo
Mosteiro de Bose, Itália
In "Monastero di Bose"
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 10.12.2015