Sob a pena imaginária de Adriano,
nas palavras de uma carta nunca escrita,
Marguerite Yourcenar dá-nos o colorido de uma história pessoal cheia de peripécias,
rica em reencontros e feita de decisão, coragem e inteligência.
Dá-nos também o acesso, com uma mestria sem igual,
a um mundo que nos já se tornou distante de nós nos hábitos,
nos valores e nas crenças, aquele do Império romano.
Mas, oferece-nos algo ainda mais precioso.
Oferece-nos um espelho.
A história de Adriano, contada de uma distância nostálgica em relação a todo o vivido,
é uma porta para a nossa própria história,
para os seus caminhos mais ou menos tortuosos,
para os dias em que tomámos decisões
e
para os dias em que outros as tomaram por nós.
Talvez por isso o exercício de ler este pequeno grande livro
pode
verdadeiramente
‘descolar-nos’.
Pode deixar-nos em suspenso das linhas
tantas vezes imperceptíveis da nossa história pessoal.
Convida-nos também, sem moralismos, a ir além dos caprichos,
além das nossas ‘pequenas verdades’,
num esforço de superação que nos devolva ao essencial,
ao esquecido, às memórias grávidas de futuro.
Francisco Martins, sj
16.07.2013