terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Também já percorri caminhos


Que caminho é esse,
tão inóspito,
que trilhas?

É por vontade própria,
ou simplesmente te perdeste?
Respeito a tua procura,
se for o caso.

Quero só dizer
que estou aqui 
para o que der e vier,
se por acaso precisares.

Também já percorri caminhos
que não levam a lado nenhum,
labirintos de onde é difícil sair,
até ao dia em que se parece
reconhecer uma estrada,
estranhamente familiar.

Segue por ela.
Repetirás esta procura
muitas vezes na vida.
Presta atenção,
para que as estradas que
te convidam a percorrê-las
cumpram o seu dever:
de te levar, afinal, ao que vieste.

José Luis Artur, sj

UM SILÊNCIO FEITO DE AMOR

O deserto é feito de silêncio.
Não de um silêncio estéril,
marcado apenas pela falta de barulho,
mas de um silêncio que nasce
dentro da própria pessoa:
um silêncio feito de reflexão e de paz.
Um silêncio feito de amor.

É necessário de quando em vez
fazermos uma paragem na vida.
Paragem semelhante à daqueles
que, andando no deserto,
ficam algum tempo no oásis que encontram.
Saem dali refeitos, enriquecidos e animados.

Também nós sairemos enriquecidos
dos momentos de deserto que criarmos.
Depois disso, teremos melhores condições de 
enfrentar a vida de cada dia,
com os seus problemas, desafios e solicitações.

Sairemos de nossos desertos convictos
de que nesses tempos que
periodicamente nos concedemos,
longe de nos isolarmos num egoísmo estéril
estaremos a criar melhores condições
para estabelecer um encontro leal,
profundo e sincero connosco mesmos,
com os outros e com Deus.

D. Murilo Krieger

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Só quando experimento o meu nada...


Senhor, só quando experimento o meu nada,
a minha incapacidade,
a minha limitação,
encontro uma oportunidade 
para que Tu irrompas na minha vida
e faça a experiência da Tua Providência,
da Tua actuação em mim,
do Teu amor que me envolve e ajuda.
Então posso dizer com verdade
que Tu és o meu Deus,
e que Te conheço porque Te experimento.
A experiência do meu nada
permite a experiência do Teu tudo em mim.
Glorio-me, como São Paulo, nas minhas fraquezas.
Dá-me a graça de sempre Te buscar
permanecendo diante da verdade que sou.

Mafalda Brandão
in Essejota, 17.01.2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Um caminho que espera peregrinos...




Os apaixonados têm vaidade do seu amor,
mas ainda que o queiram manter reservado,
dificilmente o escondem:
há sempre um gesto.... um olhar...
uma palavra que os denúncia.

Parece que apenas os amados de Deus
conseguem a estranha proeza
de não revelar a alegria que devia notar-se,
enveredando por uma espécie de crença
clandestina, envergonhada, disfarçada
por muros de respeitos humanos.

Assim renunciam à missão
que lhes foi cometida:
"Sereis minhas testemunhas"

Ver, acreditar, testemunhar
Eis um caminho...
que espera peregrinos! 

Cónego João Aguiar

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Quer queiras quer não...

"Reconduzirei a desgarrada, 
procurarei a perdida.

Quer queiras quer não, 
assim farei

E se, em minha busca, 
os espinhos dos bosques me rasgarem, 
eu me obrigarei a ir por todos os atalhos difíceis; 
baterei todos os cercados; 
enquanto me der forças o Senhor que me ameaça, 
percorrerei tudo sem descanso. 

Reconduzirei a desgarrada, 
procurarei a perdida. 

Se não me queres atrás de ti, 
não te desgarres, não te percas" 

(Santo Agostinho, Do Sermão sobre os Pastores).

domingo, 5 de janeiro de 2014

A "noite escura" da alma, alimento dos orantes


Muitas vezes,
pensamos que rezar quer dizer experimentar a presença de Deus
e quando não a sentimos
ou achamos que não está a acontecer,
desistimos.

Deste modo não tomamos consciência que 
a oração seca, 
aborrecida, 
sem especiais sentimentos,
pode aumentar a esperança e o amor.

Vivemos assim de estimulo-resposta,
de prazer imediato, no caminho rápido e fácil.

A "noite escura" da alma foi e
é o pão-nosso-de-cada-dia
dos grandes orantes.

Mariana Abranches Pinto
In Essejota 3.1.2013