quarta-feira, 17 de março de 2010

AMASSADOS NO TEU SANGUE....


“Então Deus modelou o homem com a argila do solo,
insuflou em suas narinas um hálito de vida
e o homem tornou-se um ser vivente!” (Gn 2,7)

Há momentos em que somos surpreendidos pelo som de Deus!
Não! Não são os passos no Edén das origens…
É sim o som dessa estaca em forma de cruz que habita o monte Calvário…
Esse som que desenhou a radicalidade de Deus…
na Sua relação com cada um de nós!

Não poucas vezes desejamos ter o Teu coração, o Teu amor, o Teu olhar...
a Tua vida…a Tua sensibilidade…enfim, a Tua coragem…
Hoje, sugiro que habite o coração do homem um desejo diferente
ouso dizer que recusem subir à Tua cruz…
ouso dizer que recusem levantar olhos para Ti, como aquele centurião…
ouso dizer que recusem chorar como as mulheres de Jerusalém…

Hoje, atrevo-me a Te pedir que coloques no coração do homem
o desejo de que a argila de que foi formado …seja a argila daquele lugar onde assenta o som seco e frio da cruz em que te sustentas a descansar como estandarte de vida levantado!
Hoje, Senhor, não quero olhar a Cruz…
quero sim olhar a argila da minha existência…
não quero levantar a cabeça…
quero prostrar-me, quero sentir esse frio que habita esta argila
tantas vezes sem o hálito da Vida…
Hoje, Senhor, não quero que a lança do soldado volte a perfurar o Teu peito…
mas que rasgue esta argila… que abra nela um sulco onde, hoje, possa assentar, a cruz que Te sustenta!
Hoje, Senhor, não quero matar a Tua sede com o vinagre da minha existência…
mas apenas que concedas o dom que este sulco humano de argila… seja cálice que acolhe esses fios fulminantes do Teu sangue…

Não quero ser argila partida pela secura do afastamento de Ti…
argila por onde tantas vezes escapou esse hálito vital!

Faz Senhor que o monte calvário habite por uns instantes o meu coração…
quero ser sulco, cálice de argila ressequido, que acolhe e recolhe Teu sangue…
Hoje, Senhor, humildemente Te peço…
que a argila da minha existência seja amassada no Teu sangue!
Quero sentir esse riacho de sangue que no Edén re-criado do calvário
levanta o homem do pó da terra!
Quero viver de Ti, em Ti!
Pe António Estêvão Fernandes

sexta-feira, 12 de março de 2010

UM DEUS QUE OBEDECE À VOZ HOMEM!?


“No dia em que o Senhor entregou os Amor­reus nas mãos dos filhos de Is­rael, Josué falou ao Senhor e disse, na presença dos israelitas: «Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aia­lon.» (…) Isto está escrito no Livro do Jus­to. O Sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro. Nem antes nem depois houve um dia tão longo como aquele em que o Senhor obe­deceu à voz de um homem, pois o Senhor combatia ao lado de Israel.” (Josué 10, 12-14)

O homem obedecer a Deus até é,
racionalmente, compreensível.
Deus obedecer ao homem, digamos, e ouso dizê-lo,
é perversamente escandaloso e difícil de perceber mesmo ao nível da fé!
Não sei se estamos a perceber...
trata-se de obedecer, que supõe uma ordem...
e não de responder a um pedido que muitas vezes supõe a oração,
relação de confiança filial com Deus.
Qual o homem que ousaria,
verdadeiramente,
dar uma ordem a Deus????
Mais... Que Deus ousaria obedecer ao homem???
Queridos amigos não será o retiro um momento desses?
No meio das várias batalhas que travamos diariamente, no estudo,
nas nossas relações familiares e com os nossos amigos,
indo mais além, até nessas batalhas,
mais dificeis,
complicadas e delicadas
que temos connosco próprios,
com a nossa vida...
aí onde a terra é verdadeiramente nossa terra...
esse espaço sagrado que é o nosso coração...
lugar onde não existem mascaras, medos, fugas...
porque é o lugar,
verdadeiramente,
do nosso inequívoco encontro com Deus?
Tempo de retiro é tempo de ousarmos gritar uma ordem a Deus...
tal como Josué...
Gritemos assim:
Detêm-te aqui, Emanuel, Deus-connosco...
Sê Sol que nestes dias dissipa as sombras de desânimo,
de desconfiança, de tristeza,
que tantas vezes nos fazem perder
aquelas pequenas batalhas do nosso dia-a-dia!
Detêm-te aqui, Senhora, Maria, Nossa mãe...
Sê Lua que ilumina as noites que vivemos,
aqueles momentos em que vacilamos na fé,
na esperança, na caridade, no amor...
Ousemos gritar a Deus... a Maria...
Sabeis porque é que Ele e Ela nos obedecerão?
Porque ainda hoje nos continuam a dizer:
TU ÉS O MEU FILHO, A MINHA FILHA A QUEM TANTO AMO!
Que estes dias sejam tempo desse encontro vital,
que ele aconteça aí nessa terra
que é verdadeiramente nossa e d'Ele,
O NOSSO CORAÇÃO,
encontro que nos reconstrói, recria, renova!
Então aí o Sol e a Lua deter-se-ão não um dia...
mas todos os dias da nossa vida!
Ousemos gritar e confiar:
Deus és nosso Pai!
Cristo és nosso Irmão!
Maria és nossa Mãe!
Pe António Estêvão Fernandes

N.B: Mensagem dirigida aos cerca de 60 jovens das EJNS que se encontram, por estes dias, em retiro!

terça-feira, 9 de março de 2010

SALTAS PARA A FORNALHA?


Quando o tempo de Deus cruza,
transversalmente,
o tempo humano, arriscamos a nos queimar!

O fim de semana passado, habitamos
(eu, dezassete jovens das Equipas de nossa Senhora e um casal = PCL7)
o centro de um desses “cruzamentos”!
Hoje, percebi que, uma metáfora, fora, por mão de Deus,
o pórtico deste retiro:
A LAREIRA
Ao inicio uma necessidade: o frio reclamava o calor…
no seguimento uma dificuldade: o fogo teimava em não atear…
no entretanto uma sarça que não se consumia...
no fim uma realidade: um fogo que fica…O FOGO que vai!
Assim foi, diria, o percurso metafórico, deste retiro!
Todos podemos aprender a lição da lareira… o frio da solidão e do medo humano reclama o calor da presença transbordante de confiança de Deus. Um longo tempo sem Deus dificulta a sua redescoberta na vida. Descoberto e reencontrado…Deus “acende” em nós o fogo da confiança, fogo que é luz que vence a escuridão do medo e o frio da solidão!
Foi a dureza do fogo dos fornos de Auswitz,
contemplado em "A lista de Schindler",
que rasgou e expôs claramente a verdade da dureza do coração humano... mas ao mesmo tempo a sede de ser caldeira de fogo que movia aquele comboio levando à libertação,
literalmente,
à vida!
Deste encontro, um final que é prenúncio: há uma chama que se reacende na lareira aparentemente apagada como que dizendo… Eles foram… mas no seu coração vai O FOGO, O MEU FOGO, que Eu quero que abrase o mundo…
Ouvida a leitura do Êxodo rezaríamos todos juntos…
Senhor,
faz com que o nosso coração seja sarça ardente que não se consome, porque Tu nele habitas!
Que ele seja sarça que Te revela, como outrora aquela a Moisés!
Que ele seja sarça que torna a Terra lugar sagrado, porque em cada irmão habitas Tu!
Que ele seja coluna de fogo que alumia as noites do nosso caminho vital,
como outrora aquela que alumiou o povo de Deus na escuridão do deserto!
Olhando o retiro, diria que, como aqueles três jovens do livro de Daniel,
dançamos dentro da fornalha ardente do Amor de Deus!
Diz-se que «gato escaldado de água fria tem medo»…
Neste caso diria que...
Jovem abrasado, de fogo tem sede…
porque FOI DEUS QUE NOS ABRASOU!

Pe António Estêvão Fernandes